terça-feira, 4 de outubro de 2011

Michel Foucault, o precursor dos estudos sobre tecnologias de poder

Filósofo francês analisou instituições de controle como prisões e manicômios

Por Catarina Chagas e Bianca Encarnação* Pesquisa e texto

Michel Foucault  (Foto: Divulgação)Michel Foucault foi um dos gênios de seu tempo
(Foto: Reprodução de TV)
Michel Foucault nasceu em Poitiers, na França, em 15 de outubro de 1926. Autodidata e admirador da literatura, Foucault vivenciou a Segunda Guerra Mundial, o que aumentou ainda mais seu interesse pelas Ciências Humanas. Foi assim que, contrariando a tradição da família, formada por médicos, ele decidiu estudar Filosofia e Psicologia. Só não triunfou, no entanto, em sua primeira tentativa de entrar na École Normale Superieure (Escola Normal Superior) de Paris, mesmo lugar antes frequentado por Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e outros notáveis intelectuais. Conseguiu o feito no ano seguinte, quando tinha então 20 anos.

Já na Escola Normal Superior da França, Foucault teve aulas com Maurice Merleau-Ponty, o filósofo que contribuiu para o desenvolvimento da fenomenologia, o método de apreensão da essência absoluta das coisas. Apesar de sua inquietação por tudo o que passava a seu redor, Foucault tinha um temperamento fechado e angustiado. Em 1948, após uma tentativa de suicídio, iniciou um tratamento psiquiátrico. Em contato com a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise, leu Platão, Hegel, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Freud, Bachelard, Lacan e outros, aprofundando-se em Kant, embora não concordasse com a noção do sujeito como mediador e referência de todas as coisas, já que, para ele, o homem era produto das práticas discursivas.

Dois anos depois, formou-se em Filosofia na Universidade Sorbonne, com uma tese sobre Hegel orientada por Merleau-Ponty. Conseguiu também o diploma em Psicologia e, tempos depois, passou a ensinar na Escola Normal Superior. Entre seus alunos estavam Derrida e o arqueólogo Paul Veyne. Na mesma época, Foucault frequentou o Hospital Psiquiátrico de Saint-Anne, uma experiência que posteriormente seria fundamental para seus estudos sobre a loucura.

Com o interesse em Psicologia e Filosofia caminhando juntos, Foucault fez progresso nas duas áreas. Em Filosofia, na ocasião, aproximou-se de Nietzsche, por meio de Maurice Blanchot e Georges Bataille. Já no campo psicológico, concluiu seus estudos em Psicologia Experimental, estudando Piaget, Lacan e Freud. Na mesma época, seguiu ainda o famoso Seminário de Jacques Lacan, uma série de 26 publicações sobre a psicanálise.

O ambiente acadêmico lhe rendeu frutos: seu primeiro livro, "Doença Mental e Psicologia", veio dois anos depois, em 1954. Em 1955, mudou-se para Suécia, onde conheceu o historiador e antropólogo francês Georges Dumézil. O contato foi importante para a evolução do pensamento de Foucault. Outras de suas principais obras são “Vigiar e Punir”, um amplo estudo sobre a disciplina na sociedade moderna, e “História da Sexualidade”, um ambicioso projeto que deixou inacabado e que mostrava como a sociedade ocidental usa o sexo como instrumento de poder. A idéia era que fossem seis volumes, mas apenas três foram publicados: "A Vontade de Saber", publicado em 1976, “O Uso dos Prazeres” e “O Cuidado de Si”, de 1984.

Em 1961, Foucault defendeu na Universidade Sorbonne a tese de doutorado que originou sua segunda publicação, "A História da Loucura", que o consolidou na Filosofia. Na obra, Foucault enumera as razões que teriam levado, nos séculos XVII e XVIII, à marginalização daqueles que eram considerados desprovidos de capacidade racional. Ele também fez parte do conselho editorial da revista Critique (1963-1977), mas sem deixar o perfil docente. Em 1965, o filósofo esteve no Brasil para uma conferência a convite de Gerard Lebrun, seu aluno em 1954.

De 1970 a 1984, Foucault assumiu a cadeira de Jean Hyppolite na disciplina História dos Sistemas de Pensamento no Collége de France. Sua aula inaugural ficou famosa com o título "A Ordem do Discurso".

Foucault preferia ser chamado de "arqueólogo", pois se via dedicado à reconstituição do que mais profundo existe em uma cultura: um arqueólogo do silêncio imposto ao louco, da visão médica (“O Nascimento da Clínica”, 1963), das ciências humanas (“As Palavras e as Coisas”, 1966) e do saber em geral (“A Arqueologia do Saber”, 1969).
Em junho de 1984, aos 57 anos e em plena produção intelectual, Foucault morreu de complicações decorrentes da Aids. Em 2011, ele completaria 85 anos.

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